Pesquisou na Internet e pensa que sabe tudo? Ledo engano!
09.04.2015

Há muito leio sobre como, principalmente na área de diagnósticos de doenças, pessoas que têm um sintoma e pesquisam na Internet o que podem ter, frequentemente não apenas conseguem se encaixar em alguma enfermidade, mas também acreditam poder se tratar sem qualquer auxílio de médicos. Invariavelmente estão erradas.
Mas não é só na medicina que isso acontece. Como professor universitário, tenho visto cada vez mais alunos de primeiro ano afirmarem “saber tudo” que há para saber com relação a um dado tema ou mesmo à futura profissão como um todo. Deparei com um caso clássico disso ainda recentemente com uma aluna que dizia querer fazer um trabalho sobre um determinado tema antropológico porque, afinal, pesquisou no Google e viu que já tinha o conhecimento necessário para fazê-lo. Ledo engano o dela, ledo engano da maioria.
Um artigo publicado no final de março pelo Journal of Experimental Psychology: General revela que a possibilidade de pesquisar e a disponibilidade de um corpo de informações gigantesco na Internet leva as pessoas a acreditarem que têm mais conhecimento do que de fato têm. A pesquisa, baseada em uma série de experimentos feitos por pesquisadores da Universidade Yale, nos Estados Unidos, mostrou que, depois de passar um tempo fazendo buscas na internet a respeito de um tema, voluntários tendem a superestimar seu conhecimento sobre outros assuntos.
Para os pesquisadores, as pessoas confundem o conhecimento que elas realmente têm com o conhecimento ao qual podem ter acesso enquanto on-line e, para testar essa hipótese, foram feitos nove experimentos com voluntários norte-americanos. Em um, foi solicitado que um grupo de participantes buscasse na internet a resposta para várias perguntas. Já para um segundo grupo não foi dada a possibilidade de utilizar a Internet nesta parte do teste.
Em uma segunda etapa, foi solicitado que os dois grupos avaliassem sua capacidade de responder por conta própria outras questões que não eram relacionadas aos primeiros temas. O grupo que foi autorizado a acessar a Internet na primeira fase foi muito mais otimista ao medir seus próprios conhecimentos sobre o assunto em comparação ao grupo que não teve acesso à Internet.
Em entrevista ao G1, que publicou os resultados da pesquisa no Brasil, o doutorando da Yale e principal pesquisador do estudo, a Internet é um recurso maravilhoso que de muitas maneiras facilita o aprendizado sobre o mundo". Mas segundo ele isso tem um preço, pois os resultados sugerem que as pessoas não conseguem distinguir onde acaba seu conhecimento e começa o conhecimento externo.
Inteligência superestimada
Os testes mostraram que os participantes que tiveram acesso à Internet superestimaram sua capacidade de responder às questões mesmo quando eram tão difíceis não foi possível encontrar as informações sobre elas na Internet.
Para Frank Keil, professor de psicologia e um dos autores do estudo, os efeitos cognitivos de ‘estar em modo de pesquisa’ na Internet podem ser tão poderosos que as pessoas ainda se sentem mais espertas mesmo quando as pesquisas que fizeram não revelam nada.
Os pesquisadores concluíram que ao situar o conhecimento externo dentro de suas próprias cabeças erroneamente, as pessoas acabam exagerando quanto trabalho intelectual conseguem fazer quando de fato estão agindo por conta própria. O fato é que, como docente, vejo isso todos os dias.


